Olho para o celular esperando um toque, uma mensagem, um sinal de vida. Não importa de quem seja, telefonema de um filho, esposa, marido, amigo, amante, pai, mãe etc. e deve esperar em vão, assim como eu. Nessas horas que presto atenção ao tempo, nos minutos, nas horas que passam sem aquele toque esperado, sem a voz do outro lado dizendo um alô. Não deve ser diferente como os sete bilhões de humanos aqui na Terra, é não devo ser diferente.
Nunca estivemos tão conectados, conectados ao mundo, sabemos de tudo bem dizer em tempo real, todos ligados a todos, e paradoxalmente nunca estivemos tão sozinhos! Sozinhos mesmo com os pais, mesmo com os filhos, sozinhos mesmo com os amigos, mesmo com o esposo, ou a esposa. Sozinhos no parque, sozinhos no metrô, sozinhos no ônibus, sozinhos nas ruas.
Dizem que a solidão e a depressão são o mal do século, sim deve ser. Vemos tudo pela tela, tela da tv, tela do celular, tela do computador. Tudo passa numa sucessão de acontecimentos, que não dá tempo nem de sentir e foi ficando tão mecânico esse não sentir que apenas vemos e ouvimos uma avalanche de imagens e sons que nos invadem. E não tem como parar, eles entram pela nossa retina e ouvidos em nossas casas atrás dos muros e grades, atrás das janelas, entram, simplesmente entram com o ar, com a luz. E estamos tão acostumados a sermos invadidos, violados pelo barulho infernal da música alta, das buzinas, do vozeio dos bares, igrejas, carro de som fazendo propaganda, televisão ligada alta, que já não sabemos o que é o silencio interno e mecanicamente buscamos o barulho para nos sentirmos também conectados. Quem não viu alguém chegar em casa e ir direto para a tv, deixando-a ligada enquanto toma banho ou faz o jantar? Os aparelhos são a única companhia, triste realidade.
Creio que há muitos que se sentem sozinhos, que olham pela janela e vêem uma multidão de pessoas indo e vindo indiferentes.
Por que tenho que viver interpretando para os outros? Por que “o meu tempo” tenho que desperdiçar com uma peça que os outros querem que eu interprete, um papel que não escrevi. Quantos “papeis” vivenciei pela força das circunstâncias, onde me calei quando era para falar, quanto tempo perdi fazendo a vontade dos outros?
Como eu olho o celular esperando algo que não vem, não será assim que também procedo diante da vida, do que eu preciso realizar para mudar? Por que em vez de eu esperar uma ligação, por que eu não ligo? Por que desperdiço tempo e atenção por algo que não sei se virá?
As pessoas falam que devemos pensar no presente, viver o presente, pensar no futuro, mas esquecem que estamos ainda aqui neste planeta de prova e expiações por causa de um passado. Um passado errado, um passado errante e muitas vezes inóspito que dói lembrar.
Muitas síndromes têm as respostas no passado, e buscando a cura algumas pessoas buscam a regressão a vidas passadas para entender o presente.
De certa forma estamos presos no tempo, dependemos do passado para entender e aceitar com resignação o presente.
Olho as horas no celular, já não espero o telefonema.
Vou dormir, quem sabe te encontro.
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